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Sonhar é Preciso: OMP promove ‘Com Vida 2024’

  • Foto do escritor: Monica Kulcsar
    Monica Kulcsar
  • 30 de out. de 2024
  • 7 min de leitura

Palestras e apresentações musicais celebram a cultura da aprendizagem e promovem reflexões sobre o papel dos sonhos na jornada de educadores e crianças
Palestras e apresentações musicais celebram a cultura da aprendizagem e promovem reflexões sobre o papel dos sonhos na jornada de educadores e crianças

Aconteceu no último sábado, 26 de setembro, o 12º Encontro Formativo Cultural: Com Vida 2024 - Sonhar é Preciso. O evento, promovido pelo Instituto Olinto Marques de Paulo (OMP), foi realizado no Teatro Humboldt, em São Paulo, e trouxe uma série de apresentações e debates sob o tema “Sonhar é Preciso”.


Direcionado a gestores sociais e profissionais de educação infantil e ensino fundamental I, o evento teve entrada gratuita e contou com tradução simultânea em libras.


“Por trás de grandes educadores, há sempre alguém. Alguém que fica lá, nos bastidores, acreditando que mudanças individuais podem transformar o coletivo. Alguém que tem a confiança de que é possível, sim, mudar uma realidade olhando de outra perspectiva. Alguém que preza pelas relações e particularidades de cada um. Esse alguém somos nós”.

Foi assim que Sara Assis, representando o Instituto OMP, abriu o evento, contando um pouquinho da história da ONG, iniciada em 2007, com o sonho de humanizar a educação, acreditando na força de formar e transformar vidas.


Hoje, o Instituto OMP segue ao lado dos educadores, dedicando os melhores recursos para um único propósito: inspirar as crianças, preparando caminhos para que alcancem a sua melhor versão.


“Desenvolvemos diversos programas que conectam educação, cultura e meio ambiente. Hoje, são mais de 1.600 educadores formados, beneficiando diretamente mais de 25 mil crianças e mais de 200 mil vidas impactadas. Sabemos que o caminho é longo, mas juntos, acreditamos que a transformação social inicia na infância”.


Assim, Sara apresentou a atração seguinte do evento: o lindo coral composto por profissionais da infância, da Sociedade Equilíbrio Interlagos, Sobei, Unidade Montanaro, grupo de assistência ao idoso e a criança Gaia, creche comunitária Mãe Natureza, Escola Municipal Maria Kazuko, representando Atibaia, que trouxeram para os palcos João e Maria, canção de Chico Buarque, Nara Leão e Sivuca.


Após a emocionante apresentação, Sara seguiu revelando como surgiu o tema desta edição: Sonhar é Preciso.


“Esse tema surgiu de uma reunião do Instituto OMP, na qual estávamos bastante preocupados com algumas crianças que não estavam mais sonhando. Quando conversávamos com elas, não havia muitas perspectivas, apenas crises climáticas, guerra na Ucrânia, em Israel, queimadas. Então, procurando o que fazer com tudo isso, veio esse tema, Sonhar é Preciso. E nós sonhamos”.


O evento foi mais do que a realização deste sonho, foi a constatação das vidas que podem ser transformadas, em conjunto, ao lado dos educadores.


“Educadores que ouvem as crianças, que cantam para as crianças, que contam para as crianças, que se unem e que, juntos, sabem o potencial de alcançar muitas pessoas”, explicou.


O evento seguiu com um bate-papo sobre educação humanizadora, transformação social e mudanças coletivas, com a presença de convidadas muito especiais, que trouxeram um pouco de suas experiências e inspirações.


Ana Flávia Basso, psicóloga, euritmista, professora de danças folclóricas e movimento, contadora de histórias, especialista em desenvolvimento humano e fundadora do canal Educar com Histórias, que promove formação para contadores de histórias; Ute Kramer, pedagoga Waldorf, fundadora da Associação Comunitária Monte Azul, co-fundadora da Aliança pela Infância no Brasil, Japão e Nova Zelândia; cofundadora do Moveh - Movimento pela Educação Humanizadora, e membro do Comitê Parlamentar pela Cultura de Paz em São Paulo; Dra. Sandra Souza, pediatra com medicina ampliada pela antroposofia, mestre em ciência pela Faculdade de Saúde Pública, área da saúde materno-infantil, atuou na Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, coordenando a área técnica de saúde da criança; e Luíza Lameirão, pedagoga pela USP, professora na educação infantil no âmbito da pedagogia Waldorf, coordenadora por mais de 20 anos do Centro de Formação de Professor Waldorf em São Paulo, co-fundadora do Colégio Waldorf Micael, da Aliança pela Infância e do Instituto Olinto Marques de Paula, autora de diversos livros, como A Bola e a Boneca e Criança Brincando! – Quem a Educa? 


Ana Flávia abriu o espaço trazendo um conto tibetano sobre sonhos e pediu para que as pessoas na plateia registrassem como estavam se sentindo.


“Há nesta história sonhos diurnos e noturnos. Os sonhos diurnos e noturnos são amigos, conversam, e revelam um pouquinho de quem somos nós. Vocês sonham? Têm algum sonho, um ideal? Em uma determinada fase da vida, vi que eu tinha deixado os meus sonhos de lado e estava vivendo no fluxo, me esquecendo deles. Mas eu gostaria de pedir para vocês voltarem lá para a infância de vocês e se recordarem dos sonhos que vocês tinham quando eram pequeninos e pequeninas”, disse.


Segundo Ana Flávia, quando voltamos para a infância, nos lembramos de muita coisa que vislumbrávamos para quando fossemos crescer.


“Alguns sonhos ficaram ali na infância, outros realizamos. Há aqueles que revitalizamos e transformamos. Vamos lembrar da sementinha que mora embaixo da terra e que contém todo o sonho da árvore que ela vai ser. Meu pedido, hoje, é quando saírem daqui, escrevam um pouquinho desses sonhos que vocês tinham quando eram crianças, para se recordarem. Ao lado, os sonhos de agora. A gente precisa sonhar para ajudar as crianças de hoje a sonharem também”.


Em seguida, Ute, que disse ter se inspirado na fala de Ana Flávia, sobre contar e escutar histórias.


“Eu nasci na Segunda Guerra Mundial, então, na minha infância, havia bombas caindo, soldados mutilados, pouca comida. Mas meu pai contava, toda noite, um conto, uma história. Eu percebi, a partir dessa infância, no meio da turbulência, da violência, a importância de sonhar. Sonhar é preciso, faz parte. Contar, escutar histórias, inventar histórias também, e o brincar criativo. Dentro dessa violência toda, ela dá um esteio”, revelou.


Ute explicou que faz parte do movimento da educação humanizadora e da Aliança pela Infância, que tem como princípio um direito essencial para a criança, que também é sonhar.

“Sonhar é um direito da criança. E esse sonhar, não é só faz de conta, não é uma mentirinha. É a realidade dessa criança. Para elas, o mundo externo e o mundo interno não são tão separados como são para nós. Poder sonhar, poder brincar, poder escutar uma contação de história é um alimento para a alma, e com o tempo, vai se transformar em algo muito importante para o mundo”.


Depois de citar exemplos relacionados aos sonhos do filósofo e cientista espiritual Rudolf Steiner, que inventou a pedagogia de Waldorf, e de Chico Mendes, que a partir de seu com o Amazonas, cuidou da humanidade como um todo, Ute finalizou sua participação com uma homenagem aos jovens das oficinas da Monte Azul.


“Diante de várias fotos, com janelas e grades, um jovem olhou fora da janela, com vários ângulos, através das grades, e escreveu: às vezes, quando olhamos pela janela, nossa visão do futuro parece bloqueada por barreiras, sejam elas físicas, emocionais ou circunstanciais. Essas barreiras nos lembram das dificuldades que enfrentamos e dos limites que o presente impõe. No entanto, o poder do futuro está em nossa capacidade de enxergar além do que é visível. Mesmo que algo bloqueie a sua visão, o futuro não está preso ao que você vê, mas sim ao que você sonha e acredita ser possível. As barreiras podem ser reais, mas sua determinação, criatividade e coragem podem abrir caminhos que você ainda não enxerga. O que parece um obstáculo, hoje, pode ser apenas o ponto de partida para a construção de um novo horizonte”.


O evento seguiu com a Dra. Sandra, pediatra há 32 anos, com ampliação pela antroposofia.

“A gente precisa sonhar e, de certa forma, eu sonhei tudo o que vivo hoje. Porque o sonho tem essa capacidade de abrir percursos. Eu cuido de crianças. A maior parte do tempo, de crianças que combinam a sua idade cronológica com as suas infâncias, mas também de muitas crianças que moram dentro dos adultos”.


A pediatra continuou, destacando a importância que devemos ter com a construção de memórias ao longo da vida.


“Há um conceito chamado salutogênese que é a descoberta de onde vem a saúde. Não há nada mais salutogênico do que a infância. Não há período na vida ou disponibilidade maior na vida para a saúde, para a produção de saúde. E quando pensamos em produção de saúde, não podemos esquecer de não atrapalhar o percurso, não fazer pela criança. As crianças precisam sonhar com as ferramentas que elas têm até ali”.


A criança precisa de um ambiente saudável e seguro, ser reconhecida, ser estimulada. Precisa sentir que ela pertence, que ela existe com valor, que é importante por ela ser quem é, e não por ela estar encaixada aqui ou ali, destacou.


Para encerrar este bate-papo, Luiza utiliza a imagem de um lago, que parece que ficou estagnado, mas deixa a água fluir. E a água encontra outros riachos, vai se tornando um rio mais lento, que fica cheio de barro e de tudo que jogaram nele.


“Vocês já localizaram o que está acontecendo com o rio de vocês, nesse momento? Estão na calmaria do lago ou na cachoeira mais alta que aquele rio passou? Como é possível que o rio, lentamente se aproximando do mar, não assuste o rio para querer voltar?”, questiona.

Luiza complementa com uma frase de Sófocles, aprendida na adolescência e que sempre volta regularmente à sua mente: “muitos milagres há, mas o mais portentoso é o ser humano”.


Assim, explicou, “esse milagre são as crianças, a nossa família, os vizinhos e cada ser humano que vive guerras terríveis.  Empreender isso, é o mais portentoso dos milagres e me torna verdadeiramente humana. Nos torna educadores, médicos, cientistas sociais ou contadoras de histórias”.  


O Com Vida 2024 seguiu nos palcos do Teatro Humbolt, com a participação de Lúcia Mugia, musicista, musicoterapeuta, arte educadora, que trouxe descontração e alegria, com uma movimentada apresentação. O auditório participou em pé, retribuindo com muita energia.

Aproveitando o embalo da plateia, o projeto de musicalização Música Viva, que atende crianças de 6 a 14 anos nas cidades de São Paulo e Atibaia, encerrou esta edição 2024 com muita música, dança e poesia.


Neste momento, Sara Assis, representante do Instituto OMP, encerrou a cerimônia, destacando a frase de Guimarães Rosa: “seja realista, acredite em milagres”.


O time do Instituto OMP foi chamado ao palco para um grande brinde à realização do evento, à vida, às conquistas e ao futuro.


Na saída, além de certificados de participação, todos os presentes receberam uma muda de piteira, com um desejo que esta árvore seja cultivada junto dos sonhos de cada um. A próxima edição do Com Vida já está prevista para outubro de 2025.

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